O USO DA POESIA DE CORDEL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Quanto encontrei esse material cujo título era: O USO DA POESIA DE CORDEL NA EDUCAÇÃO INFANTIL, fui tomado por uma grande ansiedade e mais do que depressa, abri o arquivo e comecei a ler! Imaginem a minha surpresa quando me deparei com minhas obras sendo analisadas por uma Mestra em linguística pela Universidade Federal do Ceará - UFC- de nome Érica Pires Conde! Felicidades mil!! Segue abaixo parte do material onde meus cordéis são citados:
AS POESIAS DE CORDEL PARA CRIANÇAS: COMO
USAR?
UMA ANÁLISE DOS TEXTOS POÉTICOS DE TARCIO
COSTA.
Uma atividade importante e que estimula
bastante as crianças é a literatura de cordel. Denominamos esse tipo de
literatura como uma manifestação cultural que surge na forma oralizada e, por
meio da escrita, transmite as cantigas, os poemas e as histórias de um povo,
sendo impressa em folheto ou livretos. Antes eram expostos em barbantes, como
roupas no varal; atualmente, podem ser achados no ciberespaço. A contribuição
da literatura de cordel para a formação do aluno dá-se pela possibilidade de
levá-los ao domínio de outros conteúdos, além de abordar as variantes de
linguagens regionais. A fim de analisarmos essas possibilidades, estudamos os
textos de Tarcio Costa, que saiu dos folhetos e ganhou o mundo digital,
postados no blog www.cordeispedagogicos.com.br. A nossa escolha por algumas
poesias deu-se considerando a presença de temasatuais, o jogo feito com as
rimas e o uso de recursos estilísticos. Colocamos, a seguir, um exemplo enfatizando
um tema atual, o cordel contra a dengue. Dengue é uma doença infecciosa aguda, causada
pelo vírus Flaviridae, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti:
EXEMPLO 1 – O CORDEL CONTRA DENGUE2
Vamos falar de um assunto
Que é mesmo muito importante
Temos que ser rapidinhos
Não perder nenhum instante
Pois na guerra contra a dengue
Nunca se faz o bastante
Os ovinhos do mosquito
Você pode encontrar
Bem ali no seu quintal
Em tudo quanto é lugar
Basta que tenha lixinho
Que água possa acumular
Pneus velhos e garrafas
Se não forem bem guardados
Servirão de criadouros
Dos mosquitinhos danados
Que uma vez picando a gente
Deixa-nos adoentados
Seja em casa ou na escola
Temos que tomar cuidado
Pois nos vasos das plantinhas
Deve ser depositado
No lugar da água, areia
Que dá melhor resultado
Avisemos aos papais
Para em casa procurar
Limpar muito bem as calhas
E as caixas d’água lavar
Nessa luta contra a dengue
Todos devem ajudar
Faça então a sua parte
E convide seu vizinho
Nossa união faz a força
Contra esse mosquitinho
É nosso dever cuidar
Da saúde com carinho
Com a poesia “O cordel contra a dengue”, de
Tarcio Costa, temos um guia de prevenção, em que nos deparamos com uma
linguagem bem acessível, própria para crianças. Ocorre até a presença de
diminutivos (rapidinhos, lixinhos, mosquitinhos) especificando essa preocupação
do autor.
Esse fato, acreditamos, aproxima o texto da
criança. Gonçalves (2009), a respeito dessa questão, expõe que, ao
selecionarmos uma poesia, devemos levar em consideração que se trata de uma
arte. Como tal, a autora sugere que levemos em conta a linguagem, que deve ser simples
e bem trabalhada, os sons, as imagens, o humor e o conteúdo que deve trabalhar
com as emoções e as ideias. Retomamos, aqui, a ideia de Alves (2008) sobre a
literatura de cordel, quando mostra que esse gênero permite reflexão sobre as
vozes presentes em textos, como os aspectos morais, políticos, econômicos, culturais,
dentre outros.
Com o exposto, verificamos que, com a
literatura de cordel, podemos levar temas do cotidiano das crianças para a sala
de aula, proporcionando discussão, uma educação dialógica. Na sequência
enumeramos outro poema de Tarcio Costa, no qual destacamos o jogo com as rimas:
EXEMPLO 2 - O VOVÔ E A VOVÓ3
O vovô e a vovó
Não gostam de confusão
Pedem para seus netinhos
Prestarem muita atenção
Vovô se escreve de um jeito
Que vovó não escreve não
O vovô leva chapéu
A vovó leva grampinho
Pois acento circunflexo
É igual a um chapeuzinho
Na vovó o acento agudo
Deixa tudo bem certinho
São o vovô e a vovó
a nossa grande riqueza
Quando a escrita é correta
Fica melhor com certeza
Pois mais bela fica ainda
Nossa língua portuguesa
A sonoridade e o jogo com as palavras dão uma
sensação gostosa no leitor. A rima salteada, presente em todos os textos
analisados, garante a expressividade e a musicalidade: confusão, atenção, não/
grampinho, chapeuzinho, certinho/ riqueza, certeza, portuguesa. Dessa forma, permitimos
que, com o uso de poesias em sala de aula, as crianças sintam o jogo que é feito
com as palavras e as emoções. A brincadeira com os vocábulos, então, ganha
forma e o importante em trabalhar com a poesia passa a ser instigar a
criatividade, sentir, poder se colocar no texto. Tarcio Costa mostra, nesse
poema, o trabalho com duas temáticas: os avós e a escrita na língua portuguesa.
Há um regate das tradições familiares, mostrando, nas entrelinhas, diferenças entre
as gerações.
Apresentamos, aqui, outro poema de Tarcio
Costa, no qual destacamos o uso dos recursos estilísticos, hipérbole e
metáfora:
EXEMPLO 3 - BRINCADEIRA DE CRIANÇA
Um barquinho de papel
Gira, gira meu peão
Carrinho de rolimã
Amarelinha no chão
Quem chegar primeiro ao céu
Vai ganhar meu coração
A pipa no azul do céu
Pular corda no quintal
Bate e volta à bola queima
Sempre venço no final
Pois bom mesmo é ser criança
Brincar até passar mal
O mundo é bola de gude
É ciranda cirandinha
Pega-pega é mais gostosa
Quando a vez não é a minha
Se adulto tem inveja
Que volte a ser criancinha
A principal característica dessa poesia é o
tom lúdico com que é tratado o assunto. Ademais, há ainda um resgate de todas
as brincadeiras de infância do autor: pega-pega, pular corda, queima,
amarelinha (canção), rodar pião, dentre outras. Os recursos estilísticos
hipérbole (Brincar até passar mal) e metáfora (O mundo é bola de gude) aparecem
no texto com o intuito de caracterizar as vivências infantis, ou seja, nessas
expressões encontramos a maneira como as crianças sentem o mundo.
Coelho (2000) comenta serem as novas poesias
(a partir dos anos 70) diferentes das iniciais (caráter didático), pois
procuram usar a palavra como um jogo, uma brincadeira com a fala, cheia de
sonoridade.
A poesia infantil de cordel de Tarcio Costa
apresenta as características elencadas por Gonçalves (2009) e Zappone (2005),
analisadas anteriormente: meio expressivo de comunicação, inovação de
linguagem, adequação de vocabulário e de construções sintáticas aos leitores
destinatários.
Acreditamos, com a análise feita, que o uso
da poesia infantil de cordel em sala de aula proporciona aos alunos da educação
infantil a junção de três itens fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e
social: a ludicidade, o conhecimento do contexto social, podendo ser feito um
paralelo entre o antes e o agora, e o letramento.
Érica Pires Conde
Universidade Federal do Piauí – UFPI
Mestra em linguística pela Universidade Federal do Ceará - UFC
Diálogos Pertinentes – Revista Científica de Letras
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